RECONVERSÃO URBANA
“Reconversão urbana é o processo de recuperação e adaptação de áreas urbanas consolidadas subutilizadas, degradadas ou em processo de degradação a fim de reintegrá-las à dinâmica urbana, criando condições e instrumentos necessários para conter os processos de esvaziamento de funções e atividades, repovoando essa áreas de forma multiclassista, tudo isso com respeito às habilidades originais de cada um dos centros, analisadas e pesquisadas no processo de elaboração e implantação dos planos de reabilitação.”
Com a globalização o compartilhamento de interesses, de influências, necessidades, economia, ou imposição deles, como queira, o modelo de cidade mudou completamente para atender a certas demandas em determinadas épocas. Ela juntamente com a manufatura, se tornou um objeto vendável, não no sentido literal da palavra, mas venda da sua imagem e estilo de vida. Mais especificamente, da imagem e do estilo de vida que mascaram as desigualdades sociais.
Acompanhando as mudanças no capitalismo está a mudança das políticas públicas que favorece empreendimentos altamente lucrativos, principalmente no setor terciário da economia, em detrimento da população local da região do objeto de reconversão.
O novo espaço é reconvertido por estar em uma região debilitada e desvalorizada, exatamente onde a parcela pobre da população encontra oportunidade de habitação dentro das suas condições de vida. Após a revitalização, os habitantes são expulsos pela valorização da área ou pelas próprias políticas de reassentamento urbano. Assim como a cidade vira um produto, as pessoas viram objeto de interesses.
CORRELAÇÕES RIO DE JANEIRO x MUNDO
Revitalização de zonas portuárias:
As zonas portuárias exerciam a função de carga e descarga de mercadorias, atendendo a demanda de armazenamento e às necessidades básicas de seus tripulantes em terra. Por conta disso a região por anos e anos foi considerada zona da cidade, da qual a maioria dos habitantes mantinham distância. O declínio econômico com a drástica mudança do capitalismo industrial para o capitalismo financeiro ou monopolista, provocou a migração da economia local para dentro da cidade, deixando os habitantes locais em situação de desemprego e degradação social.
A revitalização dessas áreas atualmente é devida à localização privilegiada, perto de centros financeiros e comerciais, com capacidade de desenvolvimento de lazer, residência e comércio e oferta de espaço perto dos centros já completamente ocupados.
Pela breve análise das reconversões que se realizaram e da que está em processo, é nítido o interesse puramente econômico e venda da imagem da cidade, em regiões que se tornaram e se tornarão centro de consumo e espetáculo.
QUESTÕES:
CENTRALIZAÇÃO DE CULTURA PARA PÚBLICO SELETO
O complexo cultural que está sendo implantado na Praça da Liberdade em Belo Horizonte é o maior exemplo de manifestação de interesse econômico, tendo em conta que a área já possuía toda uma dinâmica e um cotidiano com as atividades que ali estavam presentes, ou seja, não necessitava de um restauro da região.
A questão também envolve a Copa do Mundo, a imagem a ser vendida e o lucro com a cultura oferecida aos turistas. É inegável que os habitantes também ganham com um espaço dessa magnitude e oferta de tanta cultura, mas apenas os habitantes de melhor poder aquisitivo.
O projeto abrange a região centro-sul da cidade, altamente valorizada e portanto repelente da população pobre, que se intimida ou com as edificações em si, ou com a função, ou com o público-alvo que frequentará, ou com os preços etc.
Grande parte da população perderá um espaço de lazer público, sem nem sequer ser necessário cercar com muros. Essa barreira invisível é o resultado do estilo de vida consumista e individualista que se enraizou na nossa sociedade sem precedentes.
Atividades na Praça da Liberdade antes do Projeto do Circuito Cultural |
Novos usos para as edificações no Circuito Cultural |
DÉFICIT DE HABITAÇÃO E EDIFÍCIOS OCIOSOS
Em Belo Horizonte há um enorme déficit de moradia e espaços para alugar. Isso não acontece por falta de espaço ou por falta de edificações que atenda à demanda, mas por especulação imobiliária e falta de uma política rígida para construções inacabadas e abandonadas.
A exemplo do centro da cidade, um edifício que há anos está desocupado e degradado, sofrerá reconversão para se transformar em um hotel de luxo, tendo em vista a Copa do Mundo.
Um outro exemplo foi a ocupação de dois edifícios, denominados Torres Gêmeas. Projeto da construtora que parou antes de acabar e simplesmente ficou abandonado. Foi ocupado por diversas famílias há anos que se apropriaram do lugar e deram vida para elas. Com a iminência da copa, a construtora entrou com um processo para a recuperação e expulsão dos moradores.
A questão é: é preciso que haja um estudo em Belo Horizonte, que está repleta de prédios parados, sem uso, abandonados, para a reconversão de áreas que de fato precisem se reintegrar à cidade e não a revitalização por questões puramente econômicas que atua em detrimento dos interesses e necessidade dos indivíduos, causando segregação espacial, social e econômica.
Centro de Belo Horizonte |
Bairro Santa Tereza, Belo Horizonte |
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