segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O URBANISMO


O Urbanismo (CHOAY, 2003) Antrópolis ou Tecnotopia?

Ester Dâmaris

Na antiguidade, definir um modelo de cidade era muito difícil, uma vez que, cada região tinha sua própria organização social, política e econômica. Se a definição de cidade não existia, a definição de urbanismo estava ainda mais distante. As primeiras reflexões sobre o urbanismo surgem na segunda metade do século XIX, com a revolução industrial.
A Revolução Industrial compreendeu um período de expansão demográfica, seguida do êxodo rural e alterações profundas nas condições de vida do trabalhador. O deslocamento da população rural para os polos industriais resultou no surgimento de enormes concentrações urbanas. A população Londrina, por exemplo, cresceu de 800 000 habitantes em 1780 para mais de 5 milhões em 1880. Com o crescimento desordenado as condições de moradia se tornaram insalubres, uma vez que, não havia nenhum controle desse crescimento.  
            Como afirma Benévolo, “as casas, desde que ficassem de pé (ao menos temporariamente), e desde que as pessoas que não tinham outra escolha pudessem ser induzidas a ocupá-las, ninguém se importava se eram higiênicas ou seguras, se tinham luz ou ar ou se eram abominavelmente abafadas”. (CROOME; HAMMOND, citado por BENEVOLO, 1976, p. 71). 
O saneamento básico se tornou uma questão de saúde pública, por tratar-se de condições extremamente precárias. A mortalidade era agravada pelas péssimas condições de vida e trabalho da classe operária. Diante de tal situação os governos começaram a investir recursos em pesquisas e na área médica. Em 1842 houve uma reforma do sistema sanitário, que separava a água potável da água servida. Paris e Londres foram umas das primeiras cidades a canalizar e tratar seus esgotos.
Londres (1859) - Limpeza dos canais de esgoto
           
No século XX, o Urbanismo era considerado pelo ponto de vista meramente higiênico e sanitário, advindo da necessidade de proteger, naquela época, da manifestação de enfermidades tropicais, passando pelo ponto de vista estético, em que existia a necessidade de construir novas capitais adequadas à importância de suas funções cívicas. O urbanismo surge a partir da necessidade de ordenação do espaço, tendo como objeto de estudo as cidades, visando o planejamento do espaço urbano e seu embelezamento.  
Atualmente, o grande desafio para os urbanistas tem sido vincular os conceitos de uma cidade modelo aos centros urbanos e principalmente as regiões periféricas, que quase totalmente são ocupados por uma população de baixa renda. A solução parece simples quando se pensa somente em desenvolvimento econômico, ou seja, remanejar a população local para outras regiões, porém vale ressaltar que estamos lidando com pessoas e temos que considerar seus sentimentos e raízes.
No livro “O Urbanismo (CHOAY, 2003)” encontramos algumas vertentes do pensamento urbanista, como: progressismo, culturalismo, anti-urbanismo e naturalismo -pertencendo a uma mesma vertente- e a crítica Marxista, que foi considerada por Choay como a única vertente de caráter científico.
Além dos conceitos citados acima, em uma crítica de segundo grau sobre o urbanismo, encontramos também os conceitos de Tecnotopia e Antrópolis. Como a etimologia da palavra Tecnotopia sugere, é uma tecnologia utópica, ou seja, é a idealização de um modelo tecnológico, um método diferenciado que utiliza estruturas complexas. Basicamente, seria a utilização de técnicas que levassem a uma arquitetura ou urbanismo futuristas. O conceito de Antrópolis também pode ser percebido simplesmente ao observarmos a palavra, que significa cidade do homem ou para o homem. É considerado um modelo de planejamento mais humanista.
A qual dessas duas vertentes a situação das favelas estaria relacionada? É possível encontrar características da Antrópolis nas favelas, enquanto a Tecnotopia está mais distante dessa realidade. Se estamos lidando com tecnologia, aprimoramento de técnicas construtivas, suspensão de construções e liberação do solo, como a própria palavra sugere, seria utopia, inimaginável comparar as favelas com tamanha tecnologia.
Antrópolis assemelha-se às favelas por considerar o homem, suas raízes e seus vínculos como prioridade. Remover as favelas e instituir vilas e conjuntos habitacionais parece ser uma ideia perfeita. Realmente seria se as pessoas conseguissem se desligar automaticamente de seus vínculos e apegos. Sendo então a favela um espaço do homem, não podemos arrancar as pessoas de suas cassa e implantá-las onde parecer mais viável.  Segundo Choay, “o habitar é a ocupação pela qual o homem tem acesso ao ser, deixando surgir as coisas em torno de sí e enraizando-as”.
             A solução é urbanizar as favelas proporcionando a seus moradores condições humanas de vida. As pessoas se enganam ao pensar que urbanizar as favelas seria removê-las.  O processo de urbanização deveria consistir em disponibilizar infraestrutura, água, iluminação, saneamento, pavimentação, etc. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1.988 apresenta o Princípio da Isonomia em seu artigo 5º. Conforme descrito, “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...”, portanto, todos têm direito a condições ideais de vida.

“É uma cidade igual a um sonho: tudo o que pode ser imaginado pode ser sonhado, mas mesmo o mais inesperado dos sonhos é um quebra-cabeça que esconde um desejo, ou então o seu oposto, um medo. As cidades, como os sonhos, são construídas por desejos e medos, ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto, que as suas regras sejam absurdas, as suas perspectivas enganosas e que todas as coisas escondam uma outra coisa.” 
                                                                                                                         "Ítalo Calvino"


                                         

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