terça-feira, 30 de agosto de 2011

Pietro Falconi




Melhora de vida?
Ou trabalho compulsório?


Conflitos de agosto de 2011 em Londres. Quem são estes jovens?

Leonice Monteiro
O que se vê hoje acontecendo nas ruas de Londres já possui precedentes. A revolta de seus jovens carentes, relegados em segundo plano dentro da política Inglesa tem seus fundamentos. A manifestação pacífica de cerca de 300 pessoas, organizada por parentes e amigos de Mark Duggan, realizada em 6 de agosto de 2011, após seu assassinato pela polícia metropolitana de Londres (dois dias antes), foi simplesmente ignorada, causando revolta das minorias étnicas que são constantemente subjugadas pela polícia e pela sociedade londrina. A morte de Duggan foi a gota d’água de um sentimento de descontentamento generalizado por estas populações mais pobres devido a uma série de fatores.
A origem das manifestações foi em Tottenham, bairro pobre do norte de Londres onde Duggan foi assassinado. Após o não atendimento aos pedidos de explicações da família do rapaz, grupos de jovens se revoltam. A facilidade de comunicação permitida pela tecnologia atual possibilitou que diversos motins fossem incentivados, acontecendo em vários bairros e distritos de Londres, chegando até outras cidades como Bristol. Foram ataques incendiários e diversos saques em comércios. O resultado da violência foi de 5 mortes, ao menos 16 feridos e altos prejuízos econômicos além da prisão de diversas pessoas.

Mapa dos locais incendiados entre os dias 6 e 10 de agosto de 2011. O local assinalado corresponde a Tottenham

Já não é de hoje que a polícia britânica demonstra preconceito com estas minorias do Norte de Londres. Estas populações são constantemente humilhadas com revistas policiais constantes e batidas policiais em suas casas. Em março deste mesmo ano, na cidade de Birmingham, Kingsley Burrell Brown morreu enquanto estava sob a custódia da polícia gerando protestos. Outro antecedente foi a morte de uma mulher por ataque cardíaco na mesma Tottenham no ano de 1985, ocasionando numa revolta onde um policial foi morto. Mais um fato é o incêndio criminoso em New Cross onde 13 negros morreram. Na época, as autoridades foram acusadas de não investigarem adequadamente o caso.
A este tipo de atitude repressiva, se junta o fato de a maioria destes jovens estarem desempregados, sem perspectiva de vida. Há também os cortes econômicos nas políticas sociais e a discriminação da Imprensa que passa para a sociedade Londrina uma imagem negativa destes.
O escritor Darcus Howe, entrevistado pela BBC, afirma que se a polícia e o governo tivessem ouvido os jovens - brancos ou negros-, saberia antecipadamente que eles estavam no limite com a atuação dos policiais.
Comparando-se à Londres e Paris do século XIX, a situação de miséria que se encontravam os moradores dos bairros operários do período industrial, é parecida com a que se encontra a juventude da periferia de Londres. Vivendo em locais de degradação humana, onde se assiste ao espetáculo da violência, prostituição e criminalidade, estas pessoas, que competem de forma desvantajosa no mercado de trabalho, estão sujeitas ao trabalho informal, a caridade do governo e conseqüentemente a revoltas e protestos públicos.
Outrora na Londres do passado, diversos trabalhadores ficaram sem empregos devido a uma crise econômica. Mesmo passada, muitos jamais foram reinseridos ao trabalho formal. Hoje a crise econômica atinge novamente a parcela pobre da população e muitos não têm sequer uma perspectiva de seus futuros.
No século XIX, era claro o medo da sociedade em relação a estas multidões desempregadas, consideradas resíduos. Por experiências anteriores, sabiam que se estes, em consciência de sua degradação, viessem a se unir, provocariam grandes distúrbios. Como exemplos, temos os movimentos de revolta contra o preço do pão, em 1860. Em 1866, distúrbios devido à invasão do Hyde Park, e em 1867, devido crise econômica e epidemia de cólera, novos protestos pelo pão, no East End, onde os níveis de desemprego eram sem precedentes para a época.
“Coincidentemente, os homens que agitam Londres em fevereiro de 1886 e tentam de início resolver o problema do desemprego num inverno rigoroso através de vias legais, pedindo empregos públicos e auxílio desemprego, são trabalhadores. (...) Contudo, bastaram algumas provocações para que marcha pacífica em direção ao Hyde Park se transformasse num ataque de todas as formas de propriedade, riqueza e privilégio: janelas e vitrinas foram quebradas, carruagens foram tombadas e seus ocupantes assaltados...” (Bresciani, M. S. em Londres e Paris do século XIX)
            A revoltas como estas, também aconteciam revides sangrentos como o “Bloody Sunday”, em 13 de novembro de 1887 onde após milhares de famintos invadirem praças, parques e ruas dos bairros ricos de Londres, estes foram atacados por bandos armados, forma que a sociedade encontrou para se defender dado a incapacidade política dos governantes. Também uma forma de expressar seu temor e força.
Como se pode perceber, não é de hoje que este tipo de revolta acontece, e que as mesmas causas permanecem, devido a uma exploração capitalista, que sempre vai tender a um excedente coletivo, flagelado na sociedade.

Veja quem são os jovens que protestam na Inglaterra
 com o sociólogo Silvio Caccia Bava



O conflito


BILIOGRAFIA:

BRESCIANI, Maria Stella Martins, Londres e Paris no século XIX, 127 pgs

SITES:

 Tumulto expõe tensão entre comunidade e polícia no norte de Londres autor= Jackson, Peter (em português). BBC (7 de agosto de 2011, 16:53 GMT).

 Investigação conclui que morto em Tottenham não disparou contra a polícia (em português). BBC (9 de agosto de 2011)

 Manifestantes queimam carros da polícia em Londres durante protesto (em português). G1 (6 de agosto de 2011).

 Como a polícia perdeu o controle durante os tumultos em Londres (em portuguê).Lewis, Paul e Quinn, Ben (8 de agosto de 2011).

 Sobe para cinco o número de mortos nos motins no Reino Unido (em português). Público (Portugal).

 Anarquia em Tottenham: Um eco sombrio do distúrbio em Broadwater Farm de 1985 (em inglês). Daily Mail (7 de agosto de 2011).


 Concorrência de argumentos para explicar os tumultos (em inglês). BBC (11 de agosto de 2011).

A pobreza da Londres e Paris do século XIX e os dias atuais

Leonice Monteiro
O texto de Maria Estela Bresciani apresenta a vida da classe trabalhadora pobre e do excedente coletivo gerado pela economia da cidade industrial. Esta população vive em becos pavorosos, em situações degradantes pela falta de infra-estrutura adequada e convive no seu cotidiano, com espetáculos de promiscuidade e agressões. Não difere da vida dos nossos excluídos sociais de hoje . Em favelas e áreas degradadas, populações carentes convivem com lixo, falta de esgoto, além do cotidiano de violência. Tanto nos tempos atuais, como nas cidades De Londres e Paris do século XIX, trabalhadores convivem com criminosos e vagabundos e são estigmatizados sofrendo com o preconceito da sociedade.
A Londres industrial se tornava atrativa, tanto pela riqueza gerada, quanto por possuir instituições de caridade. A conseqüência é o êxodo de trabalhadores em direção a cidade fazendo com que a mesma crescesse a ritmos espantosos. Sem lugar, estes moradores foram se acumulando no entorno das indústrias de forma aglomerada constituindo locais insalubres e com condições de vida subumana. Quando a política de demolição, entre 1850 e 1880 atingiu estas pessoas, havia uma ausência de transporte coletivo barato e eficiente fazendo muitas migrarem para o centro.
Nossas cidades contemporâneas também são atrativas e o crescimento populacional e territorial é também elevado. A população favelada aqui também se viu realocada nas periferias (especialmente no Rio de Janeiro), também tendo casos de volta destas às áreas próximas aos centros, por não terem condições de sustentar os gastos com seu deslocamento até o trabalho.
As instituições criadas na Inglaterra de forma a amparar o trabalhador desempregado podem ser comparadas com as políticas paternalistas realizadas pelos  governos brasileiros. Ações como o seguro desemprego e o bolsa-família também não resolvem nem chegam na raiz do problema que causa essa massa de desempregados. Assim como no século XIX, estas pessoas competem no mercado de trabalho em condições desvantajosas o que gera o trabalho irregular, os biscateiros, a prostituição, a espera de caridade, as manifestações de revolta.
A cidade, organizada de forma a segregar espacialmente suas funções, otimizando as produções capitalistas, delega aos seus resíduos(populações carentes, sem esperança de inserir-se no mercado de trabalho) os subúrbios, as periferias, sem infra-estrutura adequada ás suas necessidades. Estes, sejam favelados, mendingos, e outros, são vistos de forma discriminatória pela sociedade (fato constatado no livro e que persiste ainda hoje), sendo considerados fora dela. Com isso, o medo contra esta multidão de pessoas cresce. Medo da violência que estes podem infligir por não terem acesso às mesmas vantagens que os outros da sociedade têm, medo de que estes queiram através do roubo, consumir os mesmo padrões desta. Medo de que estes se apercebam de sua condição precária e se unam em revolta contra a mesma.
Percebemos então tanto na Londres e Paris de outrora como nas cidades atuais, que a pobreza humana é vista apenas como um espetáculo entristecedor ao qual os governos só dão atenção quando algum interesse capitalista está em jogo. E para a sociedade, estas multidões são vistas como de bandidos e vagabundos, sem esboçar nenhum interesse pelas causas que os levam a esta degradação humana.
BIBLIOGRAFIA:

BRESCIANI, Maria Stella Martins, Londrese Paris no Século XIX.O Espetáculo da Pobreza, 127 pgs

Guido ZUCCONI: entendendo um pouco mais sobre Belo Horizonte

    Emyle Caldeira

     “São inúmeras as expressões com as quais pode ser definida a cidade do século XIX: de “cidade da revolução industrial” a “cidade na época da expansão”, de “cidade do progresso técnico” a “cidade do ciclo haussmaniano”; com essas definições se tem vontade de enfatizar o peso que a Paris do século XIX teve e suas transformações edilícias. Parece-nos, porém, que a expressão “cidade de ontem” é mais convincente, porque nos remete a um tempo não remoto e a uma série de imagens ainda perceptíveis. Principalmente quem nasceu antes dos meado do século XX entende que muitas das características da cidade do século XIX foram incorporadas ao cenário no qual hoje vivemos e nos movimentamos”. É assim que Guido nos orienta para o assunto que tece nas páginas que se segue.
      O fenômeno mundial da industrialização provocou o crescimento acerelado de centros urbanos em detrimento do campo (Leia mais sobre aqui e aqui também), impulsionou o desenvolvimento dos transportes e a expansão nos intercâmbios, canalizando produtos, recursos e população nos centros produtivos. Neste contexto são desenhadas novas hierarquias urbanas, as quais somente algumas coincidem com núcleos preexistentes. Grande parte foi construída do ponto zero seguindo esse novo sistema.
     As cidades que não foram rigorosamente planejadas para as novas instalações econômicas, políticas e sociais, acabou por se tornarem reagrupamentos dantescos nos quais, sem querer, o camponês foi absorvido. “Aglomeração humana, promiscuidade, falta de condições higiênicas aceitáveis, degradação material e moral são algumas das características desse inferno recente”.
    Claramente e não muito tarde, os centros urbanos começaram a mostrar sinais de insuficiência, sem condições de metabolizar o crescimento demográfico que provinha do campo.
     “Até então a cidade constituía um mundo próprio, que a extinção dos limites colocou dramaticamente frente à própria diversidade”
     No Brasil essa diversidade é claramente visível, graças a enorme desigualdade social do nosso terceiro mundo. Belo Horizonte, por exemplo, é uma cidade que inicialmente foi planejada dentro de um anel periférico que separava as áreas internas: centros comerciais, industriais, mobiliários, enfim, toda a aparelhagem urbana para dar respaldo ao sistema que se instalava; das áreas externas: periferias; depósito da expansão inevitável. O operariado, de origem camponesa, se instava como podia, promovendo a auto construção de moradia em áreas menos valorizadas e espaço disponível. A cidade se expandia sem precedentes.









     


     Essa lógica de ocupação vigora ainda hoje. “Inspirados” no modelo de urbanização de Londres, Belo Horizonte cresce e é planejada, por assim dizer, em função dos interesses da iniciativa privada, investidores imobiliários, indústria automotiva etc etc etc, ao contrário de Paris, que por sua vez foi cuidadosamente traçada pelo seu então prefeito Haussman e equipe, baseado nas necessidades de todo e qualquer setor presente no novo modelo de cidade.


     “...em Londres, a falta de um esquema geral e de uma vontade unificadora mantém o caráter descontínuo, policêntrico e, ao mesmo tempo, exalta as vocações originárias: as atividades financeiras e bancárias se colocam dentro dos limites da cidade medieval, as agregações político-ministeriais em volta da Wetminister, da residência nobre no mais salubre West End, das atividades nocivas e pouco renumeras nos eixos menos salubres da East End, próximo àquele barrage que impede aos navios de penetrar no coração da cidade”.

Semelhanças?

Basta trocar algumas palavras:
     - As atividade financeiras e bancárias se colocam dentro dos limites de área valorizada de B.H., região centro-sul.
     - Residências nobres em bairros nobres, com saneamento e aparato econômico.
     - Atividades nocivas e pouco renumeradas são “empurradas” para periferias, favela e regiões metropolitanas.






     É de se questionar quem são os responsáveis pelo nosso planejamento urbano e se este de fato funciona para a dinâmica de Belo Horizonte e expandir esse pensamento para cada cidade, cada uma com suas particularidades.

“A cidade não pára, a cidade só cresce.
O de cima sobe e o baixo desce”.



segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Uma grave Questão para a cidade do Rio de Janeiro

 Isabella Mendes

A ocupação irregular e acelerada faz com que grande parte de população ainda se instale sem a adequada infra-estrutura no que diz respeito ao saneamento.
A expansão urbana da região metropolitana do Rio de Janeiro apresentou uma história de crescimento urbano, marcado pela expansão nas periferias. Neste desenvolvimento residia a população de classe mais baixa com forte desigualdade da oferta de infra-estrutura e serviços. A instalação de equipamentos, como infra-estrutura de água e esgoto, luz e energia, gás, coleta de lixo, serviço de correio, saúde e educação naturalmente encontrados na cidade formal não chegaram com facilidade às favelas.


                                          Mapa da cidade do Rio de Janeiro


As primeiras favelas tiveram a sua implantação a partir da Proclamação da República, quando muitos escravos libertados iniciaram a ocupação pelo Morro da Providência. Hoje as favelas se encontram espalhadas por todo o Município, num total de 26 Regiões Administrativas, desde a Zona Portuária, até bairros como a Barra da Tijuca e São Conrado.
As favelas são um dos maiores exemplos da configuração sócio espacial extremamente desigual da cidade do Rio de Janeiro. Elas se formaram ainda na segunda metade do século, ocupando áreas inutilizáveis, ao menos em um primeiro momento, pelo mercado imobiliário. Espalharam-se pelo tecido urbano carioca a partir dos anos 1920, ocupando um lugar de destaque na estrutura urbana e política da cidade. Dada a proximidade espacial do mercado de trabalho e o custo relativamente baixo do acesso à moradia nas favelas, estas se revelaram um elemento estrutural do desenvolvimento econômico da cidade, permitindo a redução do peso dos fatores moradia e transporte sobre o custo da mão-de-obra.
Dados do IBGE apontam que das 513 favelas registradas na Região Metropolitana, mais de 100 estavam concentradas na zona oeste. Na ilustração pode-se verificar na paisagem urbana do Rio de Janeiro, o nítido contraste entre a favela e as edificações formais da zona sul da cidade.



                                               Favela do Morro Dona Marta na zona sul carioca.
                                       Fonte: http://www.trekearth.com/gallery/South_America/Brazil/photo512623.htm



Segundo estudos do IPP, cerca de 20 por cento dos habitantes da cidade moram atualmente em favelas.  As pesquisas sobre o crescimento das favelas, sinalizam que se a ocupação do Rio de Janeiro continuar crescendo no ritmo em que está, em 2024 os condomínios e prédios de Jacarepaguá estarão todos cercados por favelas.
Ocorre que muitas favelas não podem ser beneficiadas pelas redes de esgotos convencionais, face às condições em que foram construídas as moradias. Em muitos casos estas comunidades surgiram sem respeitar o espaçamento adequado para que fossem projetadas as vias públicas. Sem haver a distribuição apropriada entre as moradias, o que se vê é um amontoado de construções, que dificulta a implantação das redes de esgotamento sanitário nestes locais. Diante deste fato, nem todas as ocupações nos bairros do Rio de Janeiro são passíveis de serem beneficiadas com a instalação de redes de esgotamento sanitário.
A parcela da população que não é beneficiada com o direcionamento adequado de esgotos ainda é grande. Isto vem agravar o quadro de insalubridade. Não existindo o direcionamento apropriado, grande quantidade corre a céu aberto. As bacias hidrográficas se transformaram em grandes valões de esgoto como ocorria no século XVIII. Vários estudos têm demonstrado que a qualidade de vida e a biodiversidade da Região Metropolitana estão afetadas pela presença de bactérias e gigogas oriundas do esgoto. Em diversas ruas do Município o esgoto corre a céu aberto, sendo comum crianças à brincar em meio ao esgoto e o lixo.



                                                        Crianças brincando perto de esgoto                                                                                                                                            
                                                          Fonte: www.cidadeparalela.wordpress.com


A inexistência de rede de esgoto somada a deficiência relacionada a coleta de resíduos constituem-se as principais dificuldades encontrados nas favelas. Os resíduos produzidos pelos habitantes não são totalmente recolhidos, deixando grande parte deles sem destinação final adequada. Considerando o crescimento acelerado e contínuo desta população nas comunidades informais, é fácil concluir os problemas inerentes ao aumento na produção de resíduos não tratados. A água das chuvas é quem trabalha fazendo o transporte destes direcionando-os para as ruas, rios e mares da cidade. Esta solução acarreta imensas áreas degradadas no Município.  Os recursos hídricos ficam poluídos, além da existência de problemas de saúde ocasionados pelas doenças oriundas da falta de saneamento.Segundo o Censo do IBGE (2000), e o relatório publicado pela FGV através de levantamentos do IPP sobre as principais comunidades em extensão, a coleta direta do lixo nas favelas é ainda inferior, se comparado aos bairros. O percentual relativo ao atendimento dos serviços públicos nas cinco principais favelas cariocas é demonstrado no quadro abaixo.


COMUNIDADES
REDE DE ÁGUA (%)
COLETA DE LIXO (%)
Cidade de Deus
98,2
79,1
Rocinha
95,3
10,7
Complexo Alemão
97,6
48,8
Jacarezinho
98,5
64,8
Maré
99,5
85.00
Serviços públicos nas favelas cariocas
Fonte:  CPS/FGV a partir dos dados do PNAD 2000/IBGE.

Ante o cenário apresentado, a quantidade de resíduos que não tem direcionamento adequado é evidente. Toneladas destes são levadas pelas enxurradas para as sub-bacias relacionadas a seguir:

  1. Cidade de Deus: Sub-bacia do Rio Anil e Oceano Atlântico;
  2. Rocinha: Sub-Bacia do Rio da Cachoeira e Oceano Atlântico;
  3. Maré e Jacarezinho: Sub-bacia do Mangue e Baia de Guanabara
  4. Complexo do Alemão: Sub-bacia do Rio Irajá e Sub-bacia do canal da Penha.
Face ao exposto é possível verificar que, hoje o Município tem que enfrentar os seguintes problemas:

  • Grande a contaminação dos recursos hídricos e mananciais pelos esgotos, pela carga de resíduos provenientes das favelas e direcionados inadequadamente pelas águas das chuvas;
  • Lixo de toda natureza encalhados nos bueiros após grandes temporais;
  • Aumento nos casos de doenças causados pela falta de saneamento básico;
  • Ocorrência regular de grandes enchentes e alagamento pelo entupimento de canais e redes de esgotos e de drenagem;
  • Proliferação de insetos, roedores e microorganismos patogênicos;
  • Poluição visual do ambiente entre outros fatores;
Isto remete ao inicio da historia do saneamento no Município do Rio de Janeiro, quando não havia procedimentos adequados. A lama, a podridão e as resultantes deste processo traziam à população doenças e pouca qualidade de vida.
Através da análise dos problemas existentes no sistema de esgotamento sanitário do Município do Rio de Janeiro nos dias de hoje, verifica-se que a evolução das ocupações irregulares trás conseqüências negativas para as condições de saneamento básico de todo o Município. As ocupações irregulares oferecem à população um cenário onde se constata grande fragilidade com relação à disponibilidade de serviços públicos. A ausência de saneamento nestas áreas produz uma carga de poluição que pode ser visualizada ao longo de toda a cidade. Apesar do grau de desenvolvimento de alguns bairros, ainda se observa a existência de esgoto a céu aberto e grande quantidade de resíduos sólidos que não têm direcionamento final adequado.
Todo este contexto vem trazer à cidade uma enorme carga poluidora para seus recursos hídricos. Exemplos disto é a degradação da Baía de Guanabara, da Lagoa Rodrigo de Freitas assim como de todo o complexo lagunar e praias do Município. Estes problemas vem se arrastando por toda a história da implantação dos serviços de esgotamento sanitário no Rio de Janeiro. Torna-se patente a incapacidade do sistema de esgotamento sanitário de lidar com os diferentes formatos de expansão habitacional na cidade fazendo com que o Rio de Janeiro terceira cidade no mundo a instalar um sistema de tratamento de esgoto em 1847, hoje ocupe posição inferior a cidade X da África pobre.


      Vídeo relacionado ao texto: http://www.youtube.com/watch?v=0QO5G6Rjf0s

 Notas: trecho retirado, editado e modificado de;
AZEREDO, M. A. de; MOTTA, A. L. T. S. da – A história do saneamento no Município do Rio de Janeiro, 2010.

     Bibliografias:
CEDAE, A história do tratamento de esgoto no Rio de Janeiro disponível em www.cedae.com.br, acessado em. 18/10/2009.
FERREIRA, Álvaro. Favelas no Rio de Janeiro: nascimento, expansão, remoção e agora, exclusão através de muros. Revista Bibliográfica de Geografia Y Ciências Sociales. V.XIV. n° 828, 2009.
FGV – Fundação Getúlio Vargas. Desigualdades e Favelas Cariocas: a Cidade Partida está se integrando? Marcelo Néri (coordenador). Rio de Janeiro. FGV/CPS, 2010.
FGV – Fundação Getulio Vargas. Relatório Trata Brasil. Rio de Janeiro. 2007.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Perfil dos Municípios Brasileiros. 2007.
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. PNAD 2008.
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2000.
Silva, José Ribeiro da, Os Esgotos do Rio de Janeiro. VII. 2002.
SOARES, Gonçalves Rafael. A Política, o direito e as Favelas do Rio de Janeiro. Um breve olhar histórico. Journal dês Anthropologues. (2006, nº. 104-105)

O URBANISMO


O Urbanismo (CHOAY, 2003) Antrópolis ou Tecnotopia?

Ester Dâmaris

Na antiguidade, definir um modelo de cidade era muito difícil, uma vez que, cada região tinha sua própria organização social, política e econômica. Se a definição de cidade não existia, a definição de urbanismo estava ainda mais distante. As primeiras reflexões sobre o urbanismo surgem na segunda metade do século XIX, com a revolução industrial.
A Revolução Industrial compreendeu um período de expansão demográfica, seguida do êxodo rural e alterações profundas nas condições de vida do trabalhador. O deslocamento da população rural para os polos industriais resultou no surgimento de enormes concentrações urbanas. A população Londrina, por exemplo, cresceu de 800 000 habitantes em 1780 para mais de 5 milhões em 1880. Com o crescimento desordenado as condições de moradia se tornaram insalubres, uma vez que, não havia nenhum controle desse crescimento.  
            Como afirma Benévolo, “as casas, desde que ficassem de pé (ao menos temporariamente), e desde que as pessoas que não tinham outra escolha pudessem ser induzidas a ocupá-las, ninguém se importava se eram higiênicas ou seguras, se tinham luz ou ar ou se eram abominavelmente abafadas”. (CROOME; HAMMOND, citado por BENEVOLO, 1976, p. 71). 
O saneamento básico se tornou uma questão de saúde pública, por tratar-se de condições extremamente precárias. A mortalidade era agravada pelas péssimas condições de vida e trabalho da classe operária. Diante de tal situação os governos começaram a investir recursos em pesquisas e na área médica. Em 1842 houve uma reforma do sistema sanitário, que separava a água potável da água servida. Paris e Londres foram umas das primeiras cidades a canalizar e tratar seus esgotos.
Londres (1859) - Limpeza dos canais de esgoto
           
No século XX, o Urbanismo era considerado pelo ponto de vista meramente higiênico e sanitário, advindo da necessidade de proteger, naquela época, da manifestação de enfermidades tropicais, passando pelo ponto de vista estético, em que existia a necessidade de construir novas capitais adequadas à importância de suas funções cívicas. O urbanismo surge a partir da necessidade de ordenação do espaço, tendo como objeto de estudo as cidades, visando o planejamento do espaço urbano e seu embelezamento.  
Atualmente, o grande desafio para os urbanistas tem sido vincular os conceitos de uma cidade modelo aos centros urbanos e principalmente as regiões periféricas, que quase totalmente são ocupados por uma população de baixa renda. A solução parece simples quando se pensa somente em desenvolvimento econômico, ou seja, remanejar a população local para outras regiões, porém vale ressaltar que estamos lidando com pessoas e temos que considerar seus sentimentos e raízes.
No livro “O Urbanismo (CHOAY, 2003)” encontramos algumas vertentes do pensamento urbanista, como: progressismo, culturalismo, anti-urbanismo e naturalismo -pertencendo a uma mesma vertente- e a crítica Marxista, que foi considerada por Choay como a única vertente de caráter científico.
Além dos conceitos citados acima, em uma crítica de segundo grau sobre o urbanismo, encontramos também os conceitos de Tecnotopia e Antrópolis. Como a etimologia da palavra Tecnotopia sugere, é uma tecnologia utópica, ou seja, é a idealização de um modelo tecnológico, um método diferenciado que utiliza estruturas complexas. Basicamente, seria a utilização de técnicas que levassem a uma arquitetura ou urbanismo futuristas. O conceito de Antrópolis também pode ser percebido simplesmente ao observarmos a palavra, que significa cidade do homem ou para o homem. É considerado um modelo de planejamento mais humanista.
A qual dessas duas vertentes a situação das favelas estaria relacionada? É possível encontrar características da Antrópolis nas favelas, enquanto a Tecnotopia está mais distante dessa realidade. Se estamos lidando com tecnologia, aprimoramento de técnicas construtivas, suspensão de construções e liberação do solo, como a própria palavra sugere, seria utopia, inimaginável comparar as favelas com tamanha tecnologia.
Antrópolis assemelha-se às favelas por considerar o homem, suas raízes e seus vínculos como prioridade. Remover as favelas e instituir vilas e conjuntos habitacionais parece ser uma ideia perfeita. Realmente seria se as pessoas conseguissem se desligar automaticamente de seus vínculos e apegos. Sendo então a favela um espaço do homem, não podemos arrancar as pessoas de suas cassa e implantá-las onde parecer mais viável.  Segundo Choay, “o habitar é a ocupação pela qual o homem tem acesso ao ser, deixando surgir as coisas em torno de sí e enraizando-as”.
             A solução é urbanizar as favelas proporcionando a seus moradores condições humanas de vida. As pessoas se enganam ao pensar que urbanizar as favelas seria removê-las.  O processo de urbanização deveria consistir em disponibilizar infraestrutura, água, iluminação, saneamento, pavimentação, etc. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1.988 apresenta o Princípio da Isonomia em seu artigo 5º. Conforme descrito, “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...”, portanto, todos têm direito a condições ideais de vida.

“É uma cidade igual a um sonho: tudo o que pode ser imaginado pode ser sonhado, mas mesmo o mais inesperado dos sonhos é um quebra-cabeça que esconde um desejo, ou então o seu oposto, um medo. As cidades, como os sonhos, são construídas por desejos e medos, ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto, que as suas regras sejam absurdas, as suas perspectivas enganosas e que todas as coisas escondam uma outra coisa.” 
                                                                                                                         "Ítalo Calvino"


                                         

Saneamento Básico em Belo Horizonte

Isabella Mendes



A mancha urbana no município de Belo Horizonte abrange praticamente todo o seu
território, existindo apenas poucos espaços não ocupados ou com ocupação reduzida, situados  nas unidades de planejamento Barreiro Sul, Jatobá, Isidoro Norte, UFMG, Gorduras, Capitão Eduardo, Jaqueline e pequenas áreas dispersas pelas Regionais Noroeste e Nordeste.
Verificam-se maiores concentrações de domicílios nas Bacias dos Ribeirões Arrudas e
Isidoro, destacando-se as Regionais Venda Nova, Norte e Barreiro, e as Favelas Cabana,
Morro das Pedras, Barragem, Cafezal, Taquaril e Mariano de Abreu .



    
Elevados percentuais de domicílios atendidos por rede de abastecimento de água são comuns na maior parte do município revelando o alto nível de cobertura por este serviço. Nas UP’s Gorduras, em parte da Ouro Preto, localizada nas adjacências da UFMG, Pedreira Prado Lopes, Cafezal, Taquaril, Barragem, Barreiro de Cima e Jatobá são observadas as menores coberturas por rede, com até 60% de seus domicílios atendidos por outras formas de abastecimento (poço ou nascente sem canalização interna e por todas as formas de abastecimento de água, sem canalização interna ao domicílio). As áreas que representam uma cobertura de 60 a 95% dos domicílios estão localizadas, sobretudo, nos limites de Belo Horizonte, principalmente nas regiões de Venda Nova, Norte, Nordeste e Barreiro.
A forma de abastecimento do tipo poço ou nascente é praticamente inexistente em Belo Horizonte, sendo verificados alguns focos desta forma de abastecimento nas regiões Norte, Nordeste e Leste - Jaqueline, Gorduras e Taquaril - e em pontos dispersos pela porção centro-norte da capital. Entretanto, ainda são numerosas as áreas ocupadas por domicílios sem canalização interna de água, mais freqüentes nas regiões do Barreiro, Norte e Nordeste e nas vilas e favelas espalhadas pelo município.
  
Como o percentual de atendimento por rede de abastecimento é elevado no
município, a alta dispersão dos domicílios sem canalização interna de água constitui o maior empecilho para a universalização do abastecimento via rede geral com canalização interna.
A observação da distribuição percentual dos domicílios atendidos por rede de
esgotamento sanitário  revela que este tipo de sistema está concentrado na
Bacia do Arrudas, com destaque para a região centro-sul de Belo Horizonte. As regiões do Barreiro, Oeste, Pampulha, Venda Nova e Norte concentram as menores coberturas, com alguns de seus setores censitários contendo até 70% de seus domicílios atendidos por outra forma de escoadouro de esgotos.
A presença de fossas é freqüente nas três bacias em vários pontos do município,
destacando-se as Regiões Norte e de Venda Nova, na Bacia do Isidoro, Nordeste, Leste, Oeste e Barreiro, na Bacia do Arrudas, Pampulha e Noroeste, na Bacia do Onça. No Barreiro Sul, Jatobá, Baleia, Cafezal, Taquaril, Capitão Eduardo, Isidoro Norte e Pampulha a cobertura por fossa ultrapassa 50% e nas vilas e favelas esta também é uma forma bastante comum de escoadouro de esgotos.
As maiores concentrações de domicílios sem sanitário ou com escoadouro do tipo
vala, rio e lago também são observadas nas áreas periféricas de Belo Horizonte, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, Pampulha e Barreiro. Esta forma de
escoadouro de esgotos, como as fossas, encontra-se bastante dispersa pelo município, sendo muito comum em vilas e favelas.

O sistema de coleta de lixo de Belo Horizonte é caracterizado pela alta e abrangente
cobertura domiciliar. As regiões do Barreiro, Norte e Nordeste, bem como as vilas e favelas possuem os menores percentuais de atendimento. Em algumas áreas do
Barreiro de Cima e Vale do Jatobá, os percentuais de domicílios atendidos por sistema de coleta são inferiores a 50%. O mesmo ocorre na unidade de planejamento constituída pela UFMG, cujo lixo é queimado, e em Gorduras. As áreas em vermelho caracterizam um atendimento que engloba entre 50 e 95% dos domicílios, ressaltando-se as Ups: Vale do Jatobá, Barreiro Sul, Cardoso, Barreiro de cima, Bairro das Indústrias, Estoril-Buritis, Pilar Oeste, Morro das Pedras, Cabana, Taquaril, Instituto Agronômico, Cafezal, Barragem, Glória, Capitão Eduardo, Gorduras, Isidoro Norte, Furquim Werneck, Serra Verde, Jardim Europa, Ouro Preto e Garças/Braúnas.

DOMICÍLIOS ATENDIDOS POR SISTEMA DE COLETA DE LIXO




As áreas de maior concentração de domicílios cujo lixo é disposto na propriedade
encontram-se no Norte e Nordeste – Isidoro Norte, Capitão Eduardo e Gorduras – Leste
Taquaril – Centro-Sul – Cafezal e Barragem Santa Lúcia - Pampulha – S. Francisco, Jaraguá e UFMG – Oeste – Glória e Morro das Pedras – e Barreiro – Barreiro de Cima, Jatobá e Cardoso.
Ao analisarmos estes dados podemos concluir que na maioria das vezes a falta de saneamento, canalização interna, coleta de lixo, estão concentradas nas áreas de favelas ,e pela numerosa população são locais propícios para a proliferação de doenças e epidemias.


Nota: trecho retirado e editado da (Análise da Situação Sanitária do Município de Belo Horizonte e sua área de influencia)                                           PESQUISADORES: SONALY CRISTINA REZENDE BORGES DE LIMA e JÚLIO CAREPA-SOUSA- ano 2000