terça-feira, 30 de agosto de 2011

Guido ZUCCONI: entendendo um pouco mais sobre Belo Horizonte

    Emyle Caldeira

     “São inúmeras as expressões com as quais pode ser definida a cidade do século XIX: de “cidade da revolução industrial” a “cidade na época da expansão”, de “cidade do progresso técnico” a “cidade do ciclo haussmaniano”; com essas definições se tem vontade de enfatizar o peso que a Paris do século XIX teve e suas transformações edilícias. Parece-nos, porém, que a expressão “cidade de ontem” é mais convincente, porque nos remete a um tempo não remoto e a uma série de imagens ainda perceptíveis. Principalmente quem nasceu antes dos meado do século XX entende que muitas das características da cidade do século XIX foram incorporadas ao cenário no qual hoje vivemos e nos movimentamos”. É assim que Guido nos orienta para o assunto que tece nas páginas que se segue.
      O fenômeno mundial da industrialização provocou o crescimento acerelado de centros urbanos em detrimento do campo (Leia mais sobre aqui e aqui também), impulsionou o desenvolvimento dos transportes e a expansão nos intercâmbios, canalizando produtos, recursos e população nos centros produtivos. Neste contexto são desenhadas novas hierarquias urbanas, as quais somente algumas coincidem com núcleos preexistentes. Grande parte foi construída do ponto zero seguindo esse novo sistema.
     As cidades que não foram rigorosamente planejadas para as novas instalações econômicas, políticas e sociais, acabou por se tornarem reagrupamentos dantescos nos quais, sem querer, o camponês foi absorvido. “Aglomeração humana, promiscuidade, falta de condições higiênicas aceitáveis, degradação material e moral são algumas das características desse inferno recente”.
    Claramente e não muito tarde, os centros urbanos começaram a mostrar sinais de insuficiência, sem condições de metabolizar o crescimento demográfico que provinha do campo.
     “Até então a cidade constituía um mundo próprio, que a extinção dos limites colocou dramaticamente frente à própria diversidade”
     No Brasil essa diversidade é claramente visível, graças a enorme desigualdade social do nosso terceiro mundo. Belo Horizonte, por exemplo, é uma cidade que inicialmente foi planejada dentro de um anel periférico que separava as áreas internas: centros comerciais, industriais, mobiliários, enfim, toda a aparelhagem urbana para dar respaldo ao sistema que se instalava; das áreas externas: periferias; depósito da expansão inevitável. O operariado, de origem camponesa, se instava como podia, promovendo a auto construção de moradia em áreas menos valorizadas e espaço disponível. A cidade se expandia sem precedentes.









     


     Essa lógica de ocupação vigora ainda hoje. “Inspirados” no modelo de urbanização de Londres, Belo Horizonte cresce e é planejada, por assim dizer, em função dos interesses da iniciativa privada, investidores imobiliários, indústria automotiva etc etc etc, ao contrário de Paris, que por sua vez foi cuidadosamente traçada pelo seu então prefeito Haussman e equipe, baseado nas necessidades de todo e qualquer setor presente no novo modelo de cidade.


     “...em Londres, a falta de um esquema geral e de uma vontade unificadora mantém o caráter descontínuo, policêntrico e, ao mesmo tempo, exalta as vocações originárias: as atividades financeiras e bancárias se colocam dentro dos limites da cidade medieval, as agregações político-ministeriais em volta da Wetminister, da residência nobre no mais salubre West End, das atividades nocivas e pouco renumeras nos eixos menos salubres da East End, próximo àquele barrage que impede aos navios de penetrar no coração da cidade”.

Semelhanças?

Basta trocar algumas palavras:
     - As atividade financeiras e bancárias se colocam dentro dos limites de área valorizada de B.H., região centro-sul.
     - Residências nobres em bairros nobres, com saneamento e aparato econômico.
     - Atividades nocivas e pouco renumeradas são “empurradas” para periferias, favela e regiões metropolitanas.






     É de se questionar quem são os responsáveis pelo nosso planejamento urbano e se este de fato funciona para a dinâmica de Belo Horizonte e expandir esse pensamento para cada cidade, cada uma com suas particularidades.

“A cidade não pára, a cidade só cresce.
O de cima sobe e o baixo desce”.



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